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O céu estava tingido por um vermelho profundo, como se o próprio mundo chorasse sangue pela ruína da humanidade. As cidades que um dia brilharam com tecnologia e esperança agora eram ruínas silenciosas, cobertas por névoas espessas e o odor metálico da morte. Onde antes havia vida, restava apenas o domínio frio e absoluto dos vampiros.

Durante décadas, os humanos tentaram resistir. Pequenos levantes surgiram aqui e ali, alguns mais ousados, outros movidos pelo desespero. Todos caíram. A supremacia vampírica era absoluta — não apenas em força física, mas em astúcia, estratégia, e longevidade. Enquanto os homens morriam, os vampiros apenas observavam, pacientes, como quem assiste uma peça previsível encenada mil vezes.

E foi numa dessas tentativas desesperadas que um grupo de humanos insurgentes escolheu um antigo armazém, nos arredores de um distrito abandonado, como seu ponto de encontro. O local, escuro e mofado, ainda guardava marcas de um passado humano: caixas de suprimentos esquecidas, trilhos enferrujados, e mapas mal desenhados em tábuas improvisadas. Havia sangue nas paredes. Sangue seco e recente.

O ataque dos vampiros não foi um confronto. Foi um extermínio.

Em silêncio absoluto, como sombras cortando a noite, eles entraram no armazém. Nenhum grito foi permitido. Nenhum humano escapou.

Ou quase nenhum.

Taehyung, um dos mais antigos e respeitados vampiros entre os clãs do Norte, caminhava lentamente entre os corpos caídos. Sua presença impunha reverência e temor, mesmo entre os da própria espécie. Vestia um sobretudo negro de tecido nobre, os cabelos castanhos perfeitamente penteados para trás, e seus olhos carmesim reluziam como brasas sob a luz trêmula do incêndio que consumia parte do teto. Cada passo seu ecoava com uma calma sepulcral.

Ele parou.

Um som. Um sopro. Um tremor de vida.

Seus olhos fitaram os escombros com interesse renovado.Ajoelhou-se diante de uma pilha de madeira partida e sacos rasgados. Empurrou os destroços com uma das mãos enluvada e revelou algo que o fez sorrir.

Havia um jovem, caído, o corpo ensanguentado e sujo, mas o peito ainda se movia com esforço. Seus olhos semicerrados, prestes a se fechar para sempre, encontraram os de Taehyung com um misto de medo e confusão.

— Que interessante… — *murmurou o vampiro, tocando com delicadeza o rosto do rapaz. — Ainda respira. Um último suspiro…um presente do destino.

O humano mal conseguia falar. Estava ferido demais, enfraquecido demais. Mas seus olhos, mesmo ofuscados pela dor, queimavam com algo raro: fúria. A fúria dos que perderam tudo. Dos que ousam resistir.

Taehyung inclinou-se, aproximando os lábios do pescoço do rapaz. Não o fez com pressa ou brutalidade, mas com reverência. Como se estivesse selando um pacto antigo.

O sangue invadiu sua boca como um vinho denso, quente, vibrante.

E então ele parou.

Fitou o jovem, agora trêmulo, quase apagado, e perguntou com voz firme:

— Diga-me, humano…deseja continuar vivo?

Silêncio.